PSOL Nacional
Crédito da foto: Agência Brasil
Temos
concentrado todas nossas forças de mobilização na defesa da democracia e
no combate a um impeachment ilegítimo comandado pelos setores mais
retrógrados da elite nacional. Sem comprometer esses esforço de
mobilização, acredito que não podemos deixar de refletir sobre algumas
questões importantes que nos trouxeram até esse estado de crise política
extrema. Se estamos assistindo ao resultado da rearticulação de
segmentos do “andar de cima” com as representações institucionais mais
conservadoras, também tem centralidade nesse processo os inúmeros erros
do PT à frente do governo federal brasileiro.Desde 2003, quando assumiram a Presidência da República, Lula e o PT fizeram uma opção consciente pela radical conciliação de classes na condução de sua gestão. A aliança com partidos fisiológicos, o casamento com Sarney, Renan Calheiros, Roberto Jefferson e outros tantos figurões da oligarquia política brasileira foram um sinalização clara do que seria realizado. As primeiras medidas desse governo, que resultaram na ruptura de um setor da esquerda, foram a reforma da previdência, o apoio à eleição de Sarney para a Presidência do Senado e a nomeação de Henrique Meireles para o Banco Central.
A conciliação foi o grande método de ação e teve sua expressão nas mais diversas frentes, desde o papel do Vice-Presidente José Alencar como representante do “empresariado” até um flerte público com a Igreja Universal. Essas movimentações atraíram centenas de “novos aliados” do campo conservador-pragmático, que logo se adaptaram a um parasitismo no autointitulado “governo dos trabalhadores”. Os resultados danosos dessa forma de governar colhemos com pesar nestes tempos sombrios: a) o enfraquecimento da esquerda como referência política; b) o esvaziamento de pautas estratégicas do programa histórico da esquerda brasileira e c) a reorganização conservadora no campo institucional aliado a retomada de base social conservadora antes esfacelada.
A pergunta do dia é o que fazer a partir de agora. Como os segmentos progressistas, socialistas e movimentos sociais devem agir no próximo período? Não há respostas prontas para esse cenário, mas algumas reflexões preliminares podem nos ajudar a pensar nossas tarefas. Primeiro, precisamos compreender que o pacto de governabilidade conservador construiu um falso clima de paz social e foi capaz de desarticular os setores mais avançados da esquerda brasileira. A conciliação do inconciliável, ao invés de entregar os prometidos avanços seguros e graduais, produziu silenciosamente um repertório de robustos retrocessos na política.
A elite conservadora brasileira nunca teve qualquer vocação para a democracia, mesmo a meramente formal, e a esquerda sempre soube disso. A decisão de se aliar e compor um “projeto de Brasil” com esses segmentos sociais como parceiros não alterou em nada seu desprezo pelas manifestações populares e sua compreensão patriarcal e patrimonialista do Brasil. Agora, querem o seu país “de volta”. Por isso hoje estamos inseridos em uma crise política de graves proporções, dominados por uma teia parlamentar ultraconservadora, financiada pelos diversos esquemas de corrupção que a conciliação petista optou por manter a todo o vapor até os últimos momentos.
Nosso primeiro desafio ser
A reinvenção da esquerda e da sua forma de fazer política não é um sonho. Em diversos países do mundo vêm surgindo novas expressões do programa progressista. Na Espanha, Grécia, Portugal, EUA, França, Inglaterra e em tantos outros lugares, a esquerda tem se reagrupado sob novas estratégias, cultura política e estética. Só seremos capazes de enfrentar esta nova face da direita aprendendo com os erros do passado e apontando para a construção do novo. As lágrimas de hoje devem se tornar a esperança da construção de um amanhã de sonhos, lutas e persistência por um novo Brasil que enfrente sem meias palavras a desigualdade social, a LGBTfobia, o racismo, a criminalização da juventude, o fundamentalismo religioso, o machismo. Nossa mobilização em defesa da democracia não começou com o impeachment do governo Dilma. Nem terminará com sua queda.
Fábio Felix é Professor da Faculdade de Direito e Humanidades da Universidade Católica de Brasília (UCB), Secretário-Geral do PSOL/DF e constrói o Movimento O Barulho dessa cidade é a nossa voz.
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